Campo de concentração de Sachsenhausen

Sachsenhausen é um murro no estômago. É impossível ficarmos indiferentes, atormenta-nos a alma e corroi-nos a consciência ao ver in loco o palco do quão baixo e repugnante o ser humano conseguiu e consegue chegar.

O antigo campo de concentração nazi situa-se em Oranienburg, um vilarejo a cerca de 40 kms a norte da capital Berlim.

Tendo em conta que tinhamos que apanhar o voo de regresso a Lisboa pelas 14h, restava-nos apenas a manhã para conhecer o campo.

O tempo não era, portanto, muito e de modo a estarmos logo na hora de abertura, levantámo-nos ainda antes do sol raiar para apanhar o comboio que nos levaria, após uma viagem de cerca de 1 hora, à estação de Oranienburg.

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Após um pequeno percurso de cerca de 15 minutos a pé  chegámos ao campo, museu e memorial desde 2015. Deixámos as malas nos cacifos e como a entrada é gratuita, pagámos apenas, por opção, o audioguia por um preço simbólico de 3€ cada.

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Chegámos à torre de entrada do campo e deparámo-nos com o portão com a conhecida frase ‘Arbeit Mach Frei’, ie, o trabalho liberta…

Mais de 200 mil pessoas por aqui passaram entre o ano de 1936 e 1945 e metade aqui morreu devido a doenças, desnutrição, hipotermia ou executados a sangue frio.

Inicialmente, o campo nazi era apenas destinado a prisioneiros políticos. No entanto, judeus, ciganos, homossexuais, jeovás e prisioneiros de guerra rapidamente se seguiram, já que não tinham lugar na sociedade que Hitler preconizava.

Entrámos, então, no campo dos horrores. Dirigimo-nos ao lado direito onde sobrevivem dois antigos barracões – os 38 e 39 – que recriam as condições dos prisioneiros. Condições estas no mínimo degradantes, pois os barracões encontravam-se superlotados e as condições de higiene eram inexistentes. Tudo isto deixou-nos sem ar e nauseados, ainda mais ouvindo o audioguia com relatos na 1ª pessoa sobre condições absolutamente sub-humanas que ali se viviam.

Junto aos muros com arame farpado vemos uma placa com a mensagem ‘ neutrale zone – es wird onne anruf soforf scharf geschossen ‘, caso os prisioneiros ultrapassassem essa linha os guardas tinham ordens para atirar a matar.

Muitos em gesto de desespero passavam propositadamente esta linha, sendo o suícidio uma escolha ao invés de ‘viver’ naquelas condições inarráveis. Ao invés, os guardas que os assassinavam eram condecorados.

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Junto aos barracões encontra-se a antiga prisão. Ainda hoje nos lembramos das palavras de um antigo prisioneiro que esteve 42 dias na solitária. Este foi questionado por um nazi qual o motivo de ainda não ter morrido, e porque não se tinha tentado enforcar. Quando saiu para junto dos seus companheiros ninguém o reconhecia de tão pálido e tão magro que estava, parecia um fantasma e mal aguentava a luz do sol.

Seguimos o nosso trajecto junto à antiga cozinha que hoje está transformada num museu e numa pequena sala de cinema, onde podemos ver o relato cronológico de toda a história deste campo de concentração, lado a lado com o desenvolvimento da 2ª Grande Guerra. Ainda hoje o relógio no topo de uma das torres marca a hora em que o Campo foi libertado pelos Russos.

No centro do campo destaca-se um enorme pilar, um memorial aos prisioneiros de todas as nacionalidades que por ali passaram.

Inicialmente, este campo não teria como finalidade o extermínio em massa dos prisioneiros como aconteceu em Auschwitz Birkenau. No entanto, em 1941, foi construído no perímetro do campo uma camara de gás e crematório, estimando-se que tenha sido utilizado para exterminar cerca de 12 mil prisioneiros russos e na fase final da guerra os nazis pensaram mesmo em exterminar aqui todos os prisioneiros mas apenas por uma questão logística não foi possível este último acto de loucura.

Podemos ver os resticios das camaras de gás e fornos crematórios, quem sabe as histórias mais negras e  chocantes do regime nazi neste período.

A caminho da saída encontram-se vários barracões recriando a enfermaria, sendo os prisioneiros alvos das mais macabras experiencias por partes dos médicos nazis.

Estivemos no campo cerca de duas horas, mas precisávamos de mais uma hora para conseguir ver tudo com mais detalhe, mas infelizmente, o avião não esperava por nós.

Apesar da nossa visita por Berlim ter sido muito rica em história e experiências, como iremos ter oportunidade de relatar em detalhe brevemente, a visita a Sachenhausen foi sem dúvida a mais emocionante, a mais forte e que nos abalou mais.

Por mais que saibas a História, por mais que aches ques estás preparado, realmente nunca estamos preparados quando pisamos este palco de atrocidades e barbarie. E não foi há tanto tempo assim…

Que aprendamos com a História, para que a história não se voltar a repetir.

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