Tal como nas histórias de encantar, a vila de Lazarim encontra-se lá bem no fundo de um vale, bem escondido, difícil de alcançar e talvez por isso as escolas de samba ainda não a tenham descoberto 😊
Dizem que aqui mora o entrudo mais tradicional de Portugal e depois de o termos vivido não duvidamos que assim o seja!
O São Pedro não estava a ajudar, estava um dia escuro e chuvoso mas esse facto não foi suficiente para nos desarmar, nem para desarmar as largas centenas de pessoas que ano após ano vêm testemunhar as tradições carnavalescas de Lazarim.
Quando chegámos já a festa havia começado, no palco da aldeia já decorria um dos pontos altos deste entrudo que é a guerra dos testamentos. O que tem esta guerra de especial?
A rapariga e o rapaz da aldeia mais próximos de casar lêem testamentos em praça pública. Elas apresentam o testamento da burra, uma crítica satírica e mordaz aos rapazes solteiros da terra e, por sua vez, os rapazes respondem com o testamento do burro, expondo a sua visão sobre as raparigas solteiras.
Sempre em verso, com quadras intermináveis, só interrompidas pelos bombos, as cajadadas no chão pelos caretos e os risos dos presentes.
Este é o momento e o local ideal para se dizerem algumas verdades que já há um ano estavam para ser ditas, de uma forma nua e crua.
Aviso à navegação: além da malícia satírica dos seus versos, os ouvidos mais sensíveis deverão estar preparados para estas quadras, já que algumas vêm com bolinha vermelha no canto direito do ecrã 😊
Depois de finda a guerra dos testamentos, os caretos e as senhoritas ganham lugar de destaque e não há palavras para descrever as suas fantásticas máscaras, esculpidas por artesãos locais em madeira de amieiro, preservando desta forma uma tradição secular deste povo.
São de todas as formas e feitios, mais ou menos assustadores, encarnando diabos, reis, animais e vestidos ora com fatos de palha, peles de animais ou tecidos.
Despois do desfile dos caretos e senhoritas pela aldeia de Lazarim, a festa termina com a queima dos compadres com fogo posto.
Termina como quem diz, há comes e bebes toda a noite onde o caldo de farinha e feijoada serão mais tarde oferecidos aos presentes. Infelizmente o dia seguinte era dia de trabalho e estávamos bem longe de casa e não pudemos provar a famosa feijoada, no entanto, certamente, irão existir mais oportunidades para um regresso 😊
Na aldeia de Lazarim pudemos também visitar gratuitamente o Centro Interpretativo da Máscara Ibérica, um museu extremamente interessante onde podem ver e conhecer um pouco mais as tradições do entrudo na vila, bem como das suas vizinhas, onde a máscara tem um papel principal nas festividades.
Se dependesse de nós já há muito que seria considerado Património da humanidade, tal como os seus congéneres em Podence que visitámos uns dias antes.
Aqui sentimos a força das tradições, um carnaval genuíno e verdadeiro numa pequena e recôndita aldeia perto de Lamego.
Obrigado Lazarim 😊