Domingo

Um dia de primavera dava os bons dias à capital de Espanha e avisava-nos que era hora de acordar.

A noite não tinha sido fácil, a cama era bastante confortável, o quarto limpo e quentinho, mas o que não sonhávamos era que o nosso hostel estava junto a um bar ou discoteca onde a animação durou até às 4h da matina. Se soubéssemos tínhamos prolongado um pouco mais a nossa noite anterior 🙂

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Depois de uma bela banhoca para acordar e de um pequeno almoço simples, já estávamos pronto para o nosso 2º e último dia em Madrid!

A pé fomos dar os bons dias ao Urso e o Medronheiro, passámos pela Plaza de Cibeles, a fonte da deusa grega da fertilidade que é palco dos festejos do Real Madrid após ganhar a La Liga, e seguimos até à Puerta de Alcalá, mandada construir no séc. XVIII pelo Rei  D. Carlos III para servir como porta de entrada da cidade.

 

O tempo convidava ao passeio e aqui entrámos numa das pontas do Parque do Retiro, o mais famoso e maior parque da cidade com 118 hectares!

No coração do parque encontrámos o cartão postal do parque com o Estanque Grande Del Retiro com o monumento a Afonso XII como pano de fundo. A esta hora madrugadora ainda não passeavam os barcos a remos mas sim profissionais ou amadores, não sabemos, da canoagem 🙂

 

Mais abaixo visitámos o Palácio de Velasquez, que actualmente apresenta exposições temporárias do Museu Reina Sofia.

 

Seguimos para o Palácio de Cristal, que a sua arquitecura nos lembra o Jardim Botânico que visitámos em Dublin. Actualmente também funciona como uma sala de exposições do Museu Reina Sofia, neste caso da artista Colombiana, Doris Salcedo. A obra compõe-se de uma série de placas realizadas com gotas de água, alguns dos nomes dos homens e mulheres imigrantes que morreram no Mediterrâneo e Atlântico.

 

Caminhámos até à fonte do Anjo Caído, que representa o momento em que este é expulso do Paraíso. Junto à famosa estátua está o Jardim Botânico La Rosaleda, que infelizmente por esta altura do ano não estava colorido.

 

Saímos na outra ponta do parque e fomos visitar a antiga estação de Atocha, enorme e de uma beleza magnanime. No seu interior os comboios já não dormem lá, mas sim um bonito jardim tropical com mais de 7000 plantas e 260 espécies diferentes. Tem também um pequeno lago, que faz as delícias de miúdos e graúdos, com largas dezenas de tartarugas 🙂

 

Para o nosso próximo destino, para arrepiar 1 hora de caminho a pé, fomos de metro. Enquanto comprávamos os bilhetes, simpaticamente um Catalão ofereceu-nos o cartão dele com 2 viagens, o que nos fez recordar a oferta das calças dos elefantes que tínhamos tido à entrada do Grand Palace em Bangkok, de uns simpáticos yankees. Ainda tivemos tempo de rapidamente agradecer e referir em portunhol que no final do ano iríamos fazer uma visita à sua terra 🙂

Chegámos à Plaza de Chamberi, onde iríamos visitar a sua antiga estação de metro, o que se iria revelar um dos pontos altos do nosso fim de semana na cidade.

 

A estação foi inaugurada em 1919, inspirada no metro de Paris, foi uma das 8 estações originais de metro de Madrid. Na década de 60, com o aumento dos passageiros, houve a necessidade de aumentar os vagões das carruagens e por questões técnicas derivadas da curvatura da estação, o governo tomou a decisão de encerrá-la em 1966 e em 2008 foi reconvertida em museu tal como a vemos hoje.

Apesar de ser um segredo relativamente bem guardado, encontrámos ainda uma fila considerável, já que o número de visitantes que podem estar lá em baixo são limitados.

Tivemos praticamente uma hora à espera, passando parte do tempo a falar com um casal espanhol que gostava muito de Portugal. Ao contrário de grande parte dos madrileños que conhecemos, este era um casal extremamente simpático.

Quando finalmente descemos ficámos surpreendidos por termos uma visita guiada à estação. Ainda mais com uma guia extremamente simpática e comunicativa, que nos cativou desde o primeiro ao último minuto, contando-nos a história do metro da cidade e da estação de Chamberi em particular.

 

É incrível como a estação ainda se mantém com todos os seus traços originais, inclusivé com os seus paineis publicitários da época, em azulejo tão bem preservados. Já nesta época se aproveitava o tempo de espera dos utentes com publicidade 🙂

 

Durante a guerra civil a estação serviu de abrigo à população durante os bombardeamentos áereos. Já depois de encerrada em 1966 passou a ser destino de muitos sem abrigo, que caminhavam a pé  pelos carris do metro das estações de metro vizinhas e aqui faziam a sua casa, no meio da mais completa escuridão. Muitos deles não saíam antes do 1o metro da manhã, o que fazia com que ficassem retidos na estação durante todo o dia, começando a ficar famosos os ´fantasmas´na estação de Chamberi, que até tinham nomes e tudo. Inclusivé existem livros e filmes baseados nestas histórias fantasmagóricas 🙂

Adorámos a visita guiada e de ter conhecido toda estas histórias da estação de uma forma tão viva e empolgante!

Com esta visita perdemos um pouco a noção do tempo e do almoço, já que tinhamos combinado com os nossos amigos Marisol e Angel ir ter com eles.

 

A pé seguimos para espreitar os mercados de San Ildefonso e San Anton, ambos muitos giros, mas acabámos por ir almoçar ao El Respiro, naquele formato de pagar a bebida e vem uma tapa a acompanhar. Estava tudo muito bom, principalmente a paella!

 

Para sobremesa fomos comer um bolinho à famosa pastelaria La mallorquina, parecia o metro à hora de ponta! Um excelente lugar para os amigos do alheio trabalharem 🙂

 

Despedimo-nos dos nossos amigos que se iam embora e seguimos pelo Mercado del Rastro que já estava a desmontar a feira e seguimos até ao Museu da Reina Sofia que cuja visita era gratuita.

De antemão já sabiamos que havia poucos dias que albergava uma exposição temporária sobre o nosso grande Fernando Pessoa e sobre o modernismo em todas as suas formas de expressão. Foi, portanto, a 1ª coisa que fomos visitar no museu e ficámos surpreendidos com o tamanho, a qualidade e o destaque que tinha no museu. Pessoa, Almada Negreiros, Amadeu de Souza Cardoso, Sarah Afonso são apenas um dos muitos pintores famosos que estão presentes na exposição.

 

A obra mais icónica presente no museu, com uma sala enorme inteiramente dedicada ao seu quadro, é o Guernica de Picasso. Um quadro enorme de 349cm de altura por 776,5 fazem as delícias dos visitantes e apesar de não se poder tirar fotos há constantemente quem tente furar as regras, várias selfies são tiradas à socapa e a campainha sempre a soar em sinal de alarme aos prevaricadores.

O quadro tem uma simbologia muito marcada pela época do fascismo espanhol, mais precisamente quando a cidade Basca de Guernica, reduto de fortes facções contra o franquismo, foi bombardeada por caças alemães como apoio ao general Franco. Pintado maioritariamente a preto e branco, representa o horror, a violência, a dor causada nos homens pelos homens, deixando no cimo da tela uma mensagem de esperança, de luz, representado pela lâmpada.

Enquanto via o quadro, recordei-me das minhas aulas de filosofia do 10º ano onde analisámos e atribuímos as mais diversas interpretações desta famosa obra de Picasso.

 

Com o final da visita ao Museu estava também a chegar ao final o nosso fim de semana.

Com os últimos raios de sol ainda fomos de metro dar uma voltinha à famosa praça de touros de Madrid. Fomos porque realmente é de uma grande beleza arquitéctonica e não por sermos apreciadores de touradas. Na verdade, não somos e não compreendemos este prazer que se centra no inflingir de dor constante a um animal, que por sinal tenho uma grande estima por ser o meu signo 🙂 A única parte da tourada que compreendo e até considero ser alguma arte, é a coragem dos forcados a enfrentar os cornos do touro e o rapazito com uma capa que anda a fazer olés ao toiro, sujeitando-se a uma cornada do mesmo 🙂

 

Touradas para trás, a fome já apertava e fomos à caça da nossa última refeição na cidade e acabámos exactamente a tapear na mesma onde tínhamos começado no dia anterior, a Sidreria El tigre, mas noutro local. Tal como da primeira vez, não nos desiludiu!

 

Vamos ficar com saudades de pedir umas cañas e de vir acompanhado com um prato cheio de tapas 🙂

A noite já estava bem escura e chegava a hora de ir buscar as malas ao nosso hostel e seguir para terras Lusitanas..

Voltaremos a ver-te em breve, por ahora Adiós Madrid! 🙂