O passeio com o Maya Bay Sleep Aboard era aquele em que depositávamos uma maior expectativa mas, ao mesmo tempo, mais receio especialmente à Marta, tendo em conta que iríamos dormir (ou não) a céu aberto num barco ao largo da ilha Maya Bay, que se tornou célebre depois do filme A Praia.
Passado pouco mais de uma hora de chegarmos à famosa ilha Phi Phi, de águas de cor azul cristalina, embarcámos nesta aventura que só iria acabar no final da manhã seguinte.
Às 15h o nosso grupo de cerca de 50 pessoas partia rumo a Ko Phi Phi Lee. O nosso cicerone era o Marco, um italiano com cerca de 40 anos que se tinha apaixonado por este fantástico país e que por aqui tinha ficado e falava um excelente inglês. Podíamos também chamá-lo de capitão Haddock, tamanha era a sua paixão por bebida 🙂 A acompanhar o Marco tínhamos o Tailandês Jo Jo, sempre acompanhado pela sua viola e pela sua parca mas esforçada voz para as cantorias 🙂
Enquanto nos dirigíamos para a ilha falou-nos da evolução de preços que a entrada neste parque nacional sofreu desde que o loirinho bonito Leo, como descreveu o Marco, trouxe ao conhecimento de todo o mundo a Maya Bay em 1999. De 40 baths subiu exponencialmente para os 400 baths actuais!
A nossa 1ª paragem foi ao largo da Viking Cave, que ganhou o seu nome pelas pinturas descobertas com os mais diversos barcos, incluindo barcos piratas.
Hoje em dia já não conseguimos entrar nas grutas devido a uma das industrias locais mais lucrativas que é a colheita de ninhos de pássaro que é, no fundo, saliva e fezes de pássaros ou morcegos, particularmente procurados pelos chineses que acreditam nas suas propriedades medicinais e afrodisíacas.
Uma lenda conta que há muito muito tempo atrás, depois de uma tempestade, naufragaram marinheiros na boca desta baía e só conseguiram sobreviver comendo estes ninhos, que lhes deram força suficiente até serem resgatados.
A colheita desta iguaria é o que podemos chamar um emprego de alto risco, já que através de paus de bambu de vários metros e por entre a escuridão recolhem esta preciosidade, que tem um preço acessível de 2500 dólares o quilo…não faço ideia porque motivo mas não tivemos qualquer curiosidade em provar este manjar dos deuses 🙂
Seguimos então nestas águas azuis translúcidas até à Blue lagoon, onde podíamos optar por fazer snorkeling ou caiaque. A água era tão mas tão cristalina que conseguíamos ver facilmente os peixes sem mergulhar 🙂
Estivemos quase uma hora a fazer snorkeling e parecia que estávamos num autêntico aquário. Foi absolutamente fascinante ver tantas espécies diferentes de tantas cores, parecíamos autênticas crianças excitados numa loja de doces! Foi um dos pontos mais altos do nosso passeio 🙂 Depois de um balde fresquinho de água doce para tirar o sal, serviram-nos uma bela frutinha para retemperar as emoções 🙂
Fomos dando a volta à ilha, com as suas rochas e escarpas de uma beleza incrível até chegarmos à Maya Bay. Conforme o Marco nos referiu hoje o tempo ajudava, o mar estava calmo, e o barco podia entrar na baía e depois um pequeno barco nos levaria até à praia.
Chegámos ao final da tarde, onde a pouco e pouco, a horde de turistas ia abandonando a ilha e aqui ficámos até ao sol se pôr. Só tivemos pena de não termos a nossa melhor máquina fotográfica, para tirarmos fotos para a posteridade 🙂 É realmente uma praia incrível e a emoção era grande quando chegámos a este cenário idílico. No entanto o turismo de massas faz com que a limpeza da água e a sujidade na areia nos deixe uma grande tristeza na alma…
Voltámos ao nosso barco para jantar, porque é proibido fazê-lo na ilha, a fome já era negra, ainda mais com aquele cheirinho bom no ar…tigelas de frango com caril, arroz e legumes foram servidos e, ao contrário, dos nossos jovens companheiros de aventura que pouco comeram, à excepção dum yankee mexicano, repetimos 2 ou 3 vezes, estava maravilhoso! Além do mais achámos falta de educação deixar comida no prato 🙂
Neste momento apercebemo-nos que o grupo iria ser dividido em dois, os duros que iam dormir no barco e os restantes que se iriam embora. Reparámos nesta altura que os cotas como nós nos iriam deixar e aí vacilámos se teríamos feito a melhor opção 🙂
Depois do jantar fomos num barco mais pequeno até uma pequena praia deserta próximo da Maya Bay, acompanhados com o Bucket que previamente tínhamos escolhido, que não passa literalmente de um balde com mistura das bebidas que mais nos aprazem 🙂
A chegada a esta ilha é um dos momentos mais bonitos, já que a pequena ilha completamente deserta está iluminada apenas por pequenas fogueiras, que nos dá uma imagem lindíssima para quem chega como nós vindo do mar.
Com esteiras a fazer-nos de cama nas próximas horas, 2 julgo eu, já que sinceramente perdemos completamente a noção do tempo. A Marta estava com tanta sede que bebeu num ápice o seu bucket e curiosamente deu-lhe o sono e teve uma horinha a fazer um belo soninho, enquanto o restante grupo se entretinha com jogos e mais tarde em cantorias.
Como não estava muito virado para jogos, estive a contemplar o céu estrelado e a pensar que se houvesse uma designação de felicidade e plenitude bem que podia ser aquele momento 🙂
Quando dei por mim tinha duas mulheres a dormir comigo, o sonho de muitos homens. Quer dizer a Marta de um lado e uma nórdica do outro é que realmente dormiam, porque eu continuava a contemplar aquela praia deserta 🙂
Regressámos ao barco e tinha chegado o momento mais emocionante da noite, o mergulho com os planctons. Perguntam vocês o que são os planctons? São microorganismos que vivem em suspensão na água, eu diria que são antes microorganismos mágicos 🙂
De repente, todas as luzes do barco se desligaram e entrámos numa total escuridão, colocámos os coletes e os óculos de snorkeling, não víamos um palmo à frente dos olhos, o coração batia descompassadamente e demos um salto de fé para o vazio, ie, para o meio do oceano…o Marco disse-nos mexam os braços e pernas com movimentos bruscos e o que irão ver é fantástico! Maravilhoso, inesquecível, enfim, acho que todos os adjectivos pecam por escassos e não qualificariam de forma adequada aquela imagem que não ficou reproduzida em nenhuma foto mas apenas na nossa memória 🙂 Quando nos mexíamos tudo brilhava à nossa volta, tudo era fluorescente, mais vivo e mais real do que qualquer árvore de natal iluminada. O medo de qualquer tubarão foi esquecido durante todo este tempo que tivemos a “brincar” com os planctons 🙂
Depois desta espectacular aventura levámos uns baldes de água doce em cima antes de entrar no barco e seguimos o cheiro até à nossa ceia, um barbecue de pernas de frango e pão torrado. A Marta e alguns companheiros acharam estranho a pequenez das pernas de frango no entanto eu, de imediato, descansei a Marta referindo que os frangos deste lado do mundo são bem mais pequenos 🙂 Posto isto devorámos mais de uma dúzia de perninhas, os planctons tinham-nos aberto o apetite!
Tivemos, após a ceia, em cantorias com destaque para um bife dos UK que tocava viola e cantava, fazendo inveja a muitas boysband do passado 🙂
Hora de fazer o Ó-Ó, subimos para a parte superior do barco para a nossa suite, isto é, um colchão bem fininho, encontrámos o melhor spot possível e como testemunhas os calhaus tailandeses que rodeavam o barco e o céu estrelado, dormimos a já escassa noite que restava como bebés sonolentos 🙂
Quando o sol raiou, a Marta fez o favor de me acordar, para curtirmos o nascer do sol, apesar do dia ter acordado nublado foi bonito e especial na mesma 🙂
A restante equipa e tripulação, em especial o capitão Haddock ainda tardaram em acordar, sabe-se lá porquê… e fomos navegando até à Maya Bay onde meia dúzia de long tails já se encontravam. Passeámos um pouco pela ilha e deu para ver uns pequenos tubarões pequenos, mas não daqueles do filme da Praia que comem umas pernas e tal. Pelo que o Marco nos referiu na Tailândia apenas há tubarões pretos e não brancos, não havendo registo de nenhum ataque de tubarões pretos para com humanos.
Regressámos ao barco e já tínhamos o pequeno almoço à nossa espera, café, chá, ovos mexidos, arroz, frango e fruta.
De barriguinha cheia, chegava a hora de regressar às Phi Phi Don e à nossa última paragem, a Monkey Island.
Apesar da Marta não nutrir uma especial simpatia por macaquinhos, referi-lhe que são umas simpáticas e brincalhonas criaturas e lá embarcámos num pequeno barco rumo à praia dos macacos, munidos de pedaços de bananas que lhes iríamos dar. A ideia inicial seria antes de chegarmos à praia lhes lançarmos as bananas, no entanto quem manobrava o barco descuidou-se e deixou que chegássemos demasiado perto da praia, para fúria do nosso capitão Haddock. Os macacos, vendo tantas bananas, atacaram-nos literalmente, saltando para dentro do nosso barco.
Nem nos apercebemos, mas um macaco querendo comer uma deliciosa banana, mordeu umas das nossas companheiras de excursão e eu, com bananas ainda na mão, arrisquei-me ao pior. Viveu-se um momento de grande tensão, que poderia ter corrido bem pior…e onde ficámos a saber que os macacos conseguem nadar, inclusive com crias, especialmente quando está em jogo comer uma quantidade considerável de bananas 🙂
Terminava assim a nossa aventura no Maya Bay Sleep Aboard. Para quem aprecia luxo, comodidade e tranquilidade não recomendamos definitivamente este passeio. Para quem procura emoções fortes, uma bela aventura com histórias para contar e recordar esta é uma excursão imperdível e inesquecível 🙂