O fim do Verão ainda só tinha terminado no calendário, e nada melhor para aproveitar este Verão tardio do que conhecer um pouco melhor o nosso País.
Aqui vos deixamos a rota dos dois dias.
Esta era talvez a rota dos castelos mais ambiciosa que iríamos fazer, não exactamente pelo número de castelos que iríamos visitar, mas pelos kms que iríamos percorrer. Em dois dias percorremos um pouco mais de 1000 kms, foi obra! 🙂
Partimos ainda de noite rumo ao nosso 1º castelo do dia, o…
Castelo da Lousã
Um castelo singular, em destaque no cimo de um monte, no meio da lindíssima Serra da Lousã. Faz parte da muralha defensiva do Mondego, juntamente com outros demais Castelos que iríamos visitar nas nossas duas primeiras rotas.
A origem do castelo remete-nos para a dominação muçulmana na região, quando um rei teria construido o castelo, provavelmente no século XI, para proteger a sua bela filha Peralta, enquanto ele se encontrasse em campanha no Norte de África.
Apesar de se encontrar encerrado para obras, a sua visita exterior vale bem a pena e o espaço circundante é também lindíssimo, com imensos trilhos.
De seguida descemos um pouco até ao nosso já conhecido
Castelo de Penela
Apesar de já conhecermos a zona e a aldeia, famosa pelo seu queijo do Rabaçal, ainda não tinhamos tido oportunidade de o visitar e vale realmente uma visita pela sua grandiosidade, o seu óptimo estado de conservação e pelas peças de arte forjadas em ferro espalhadas – criadas pela Cercipenela – por todo o espaço, que torna a sua visita ainda mais agradável 🙂
Famoso aquando da realização do Penela presépio, por alturas do Natal, onde atrai milhares de visitantes, merece certamente uma visita fora desta época, ainda mais sendo de entrada gratuita.
O castelo trocou de mão pelas mais diversas vezes e aquando da sua conquista final por parte de D. Afonso Henriques aos Mouros, existe uma lenda deliciosa que narra este facto.
O jovem cavaleiro D. Antão Gonçalves, que pouco tempo antes reconquistou o Castelo de Sobral, propôs a D. Afonso Henriques a reconquista do castelo de Penela.
Para tal, engendrou um plano e insinuou-se a Alina, a lindissima filha do governador muçulmano, e que por amor renegava à religião cristã e abraçaria a religião muçulmana, ficando desta forma com aprovação do pai da princesa a viver no castelo como um mouro.
Certo dia, e avisados por D. Antão Gonçalves, os cristãos aproveitaram uma saída dos mouros, levando o gado de beber ao ribeiro, e disfarçaram-se, uns de mouros, outros com ramos imitando moitas, e encaminharam-se para o castelo, levando o gado de volta como se fossem os guardas mouros.
Quando os habitantes do castelo deram conta, já D. Antão Gonçalves, sob o olhar estupefacto da bela princesa Alina, havia aberto as portas do castelo e gritando para os seus camaradas dizia: “-Avancem! A praça é nossa! Estamos com o pé nela!”. (Resumo)
Reza a lenda que desta frase veio o nome do castelo e da povoação de Penela 🙂
Seguimos agora mais para norte, para um dos castelos mais bonitos do país, palco de famosas feiras medievais, o…
Castelo de Santa Maria da Feira
De estilo gótico, impressiona pela sua beleza, grandiosidade e singularidade.
À entrada assistimos a um pequeno filme sobre a história do castelo e deixámo-nos perder nos labirintos dos seus aposentos 🙂
Uma das suas lendas mais conhecidas é a da lenda do Mouro do Castelo da Feira, que podem ouvir aqui, mas a que mais gostei de ler é a da concha do mar.
Há muito, muito tempo atrás, apareceram nestas terras conchas de bivalves, que as gentes antigas da Feira utilizavam para as suas refeições, sendo que aqui a alimentação era em grande parte marítima. Pela proximidade do mar, conta-se que este chegou mesmo ao sopé do monte onde se ergueu o Castelo. Na terra há uma lenda antiquíssima, transmitida de geração em geração, um dito popular que ficou na memória coletiva do povo feirense, “que o mar já esteve na Feira, e cá há-de voltar para levar uma conchinha que cá deixou, depositada por alguém do outro mundo num pequeno baú de madrepérola. (Lenda retirada daqui)
Para bem dos Feirenses espero que esta profecia não esteja para breve!
Subimos mais para Norte, rumo à mui nobre e sempre leal cidade invicta, sempre charmosa 🙂
Era uma visita de médico, apenas para rapidamente irmos almoçar à nossa já conhecida, Tasca a Badalhoca, que vos falamos um pouco na Mesa 🙂
Seguimos a todo o vapor para Fafe, onde na Aldeia do Pontido, iríamos fazer o nosso check in, que tambem vos falaremos mais detalhadamente na Cama.
Depois rumámos à Serra do Gerês, em direcção ao…
Castelo do Lindoso
Este foi talvez o Castelo mais bonito que visitámos, não apenas pelo castelo em si mas por toda a área envolvente, circundado pelos seus pitorescos 50 espigueiros, que fazem deste castelo único em todo o país. Aqui a calma e a tranquilidade apoderam-se de ti e há naquele lugar uma força difícil de explicar.
Reza a lenda que o rei D. Dinis gostou tanto do castelo quando pela primeira vez lá se deslocou, que repetiu a visita mais algumas vezes. Ficando célebre a seguinte frase: ” Tão alegre e primoroso o achou, que logo Lindoso se chamou.”
Passámos o Rio Lima para a margem norte, no Parque nacional Peneda Gerês rumo à aldeia do Soajo, uma das mais típicas aldeias portuguesas.
Famosa pelo seu grandioso conjunto de 24 espigueiros assentes sobre uma gigantesca laje de granito e que, ainda hoje, são utilizados para secar o milho pela população.
Pela Serra, de uma beleza única, tivemos que parar diversas vezes porque por aquelas bandas a estrada não é apenas dos carros 🙂
Passámos por Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e Ponte de Lima, aqui já em velocidade cruzeiro, até Viana do Castelo onde queriamos ver o por do sol no…
Santuário de Santa Luzia
Também conhecido como Templo do Sagrado Coração de Jesus, é o cartão postal da cidade, e situa-se no alto do Monte de Santa Luzia.
Tem uma vista fantástica de 360º graus sobre a cidade, e chegámos mesmo in extremis, já que passados cerca de 15min/30 min, os acessos iriam ser encerrados devido a uma prova de rally 🙂
Apesar do pouco tempo que tinhamos, deu para apreciar o lindíssimo Santuário, que tem diversas semelhanças com Sacre Couer em Paris, e o espectacular pôr do sol.
Caíu a noite e a fome também já chegava e o destino era Braga, a cidade dos arcebispos, onde nos tinham aconselhado um dos restaurantes da moda, a Taberna Belga, que falamos com mais detalhe na Mesa.
Após o jantar tardio ainda nos restou forças para passear um pouco pela cidade, com uma vida nocturna bem activa, e seguimos para o Bom Jesus do Monte ou de Braga, para o vermos by night 🙂
´Conhecendo-o´apenas de dia, de noite com as suas muitas luzes também tem muito charme, sendo local de muitos casais de namorados a prometerem eternas juras de amor 🙂
Completamente extenuados, já que o nosso dia estava prestes a completar 24 horas, seguimos para a Aldeia do Pontido onde iríamos pernoitar.
O dia seguinte acordou cedo, não tão cedo como gostaríamos porque o cansaço não nos permitiu levantar ao cantar do galo 🙂
Após o pequeno almoço demos uma pequena volta, no meio da densa vegetação, nesta bonita aldeia em que a natureza quase selvagem convida ao descanso e ao relax.
No entanto, queriamos estar no berço da Nação, aquando da abertura de portas do seu famoso castelo, e fomos então fazer o check out e rumámos a Guimarães.
Castelo de Guimarães
O castelo é de visita gratuita todos os domingos de manhã e como somos madrugadores o castelo era praticamente só nosso.
Fizemos questão que a nossa 1ª rota dos Castelos, passasse no berço da nação onde o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques nasceu.
Em 1127, D. Afonso Henriques e as suas forças resistiram aqui às forças de Afonso VII de Leão e Castela. No ano seguinte, na batalha de São Mamede, D. Afonso Henriques venceu também aqui as forças da sua mãe, D. Teresa, dando assim origem ao novo reino, o reino de Portugal.
O castelo encontra-se em excelente estado de conservação e do cimo das suas torres temos uma vista privilegiada sobre a cidade.
Na torre central, encontra-se uma exposição bastante interessante e completa sobre o castelo, D. Afonso Henriques e a formação a partir deste local da nação portuguesa.
A poucos metros do Castelo fomos também visitar o Paço dos Duques de Bragança.
Majestosa casa senhorial do século XV, mandada construir por D. Afonso, futuro Duque de Bragança, filho bastardo do Rei D. João I .
É um Palácio enorme, com características arquitectónicas de casa fortificada, sendo facilmente reconhecido pelas suas inúmeras chaminés cilíndricas
Aproximando-se a hora de almoço, subimos rumo à Povoa de Lanhoso, , mais precisamente à aldeia de São João de Rei, para ir comer uma posta de bacalhau ao Restaurante o Victor. Não estávamos era a contar que este estivesse encerrado… Solução de recurso: Restaurante Velho Minho, que falamos aqui, e do qual gostámos imenso.
Castelo de Lanhoso
O castelo de Lanhoso não estava no nosso programa mas ao chegar à Vila de Póvoa de Lanhoso, conhecida pela arte da ouriversaria em filigrana, não pudemos deixar de reparar lá bem em cima no seu imponente castelo.
No cimo do Monte do Pilar, sob um grande ´calhau´ergue-se este bonito Castelo de Lanhoso.
Cerca do séc. XI, os alicerces Romanos, deram lugar a este castelo medieval, que se chamava de cabeça de terra, o que traduzia a sua importância regional do mesmo.
Conta-se que foi refúgio de D. Teresa, mãe de Afonso Henriques, após o ataque da sua irmã D. Urraca e mais tarde prisão após a Batalha de São Mamede com o seu filho.
No século XIII, o castelo foi palco de um trágico acontecimento. D. Gonçalves de Pereira, tetravó de D. Nuno Álvares Pereira, ao saber da infidelidade conjugal de sua esposa, Inês Sanches, enamorada de um frade do mosteiro de Bouro, retornou ao castelo e, fechando-lhe as portas, ordenou que se incendiasse a alcáçova, provocando com isso a morte da infiel e do seu amante, bem como dos serviçais, que implicou como cúmplices por não terem denunciado o facto. Os antigos relatos referem que ninguém escapou com vida do incêndio, nem sequer os animais domésticos.
Junto ao castelo no séc. XVII um comerciante abastado do Porto decidiu erguer uma réplica do Santuário Bom Jesus do Monte, sendo hoje um importante ponto de peregrinação.
Chegava a hora de começarmos a descer no mapa de Portugal rumo a casa, mas antes iríamos fazer um pequeno desvio para conhecer o que se julga ser o mais antigo Castelo de Portugal
Castelo Montemor o Velho
O castelo de Montemor O Velho surpreende-nos antes de mais pela sua dimensão, com as suas belas muralhas a perder de vista.
Depois de entrarmos nas muralhas do Castelo, além da sua grandiosidade a nível de espaço, surpreende-nos também o modo como o seu interior está bem cuidado.
As primeiras referências a este castelo remontam ao ano de 848, altura da sua 1ª conquista aos Muçulmanos. Palco de muitas lutas, não só com os árabes, mas também devido às disputas entre os príncipes e reis de Portugal, e até nas invasões francesas, foi sendo reparado, ampliado e modificado ao logo dos séculos, mas se alguma coisa marca a história desta fortaleza, é o facto de nela ter sido decidida a morte de Inês de Castro.
‘A lenda do abade João remonta ao século IX, quando o castelo de Montemor-o-Velho foi conquistado aos mouros. Segundo a tradição a defesa da fortaleza foi entregue a um monge guerreiro com o nome de João, que anos antes encontrara um recém-nascido abandonado no campo, tendo-lhe dado o nome de Garcia.
Já adulto, Garcia tornou-se um renegado, um convertido ao islão, pondo cerco a Montemor com um exército muçulmano. Com o tempo a situação tornou-se desesperada para os sitiados que viram esgotar-se a água e a comida.
Sem esperanças de vencer, os cristãos decidiram realizar um último grande ataque. Para evitar que as mulheres, crianças e velhos escondidos na fortaleza fossem feitos escravos, foi decidido degolá-los. Realizada a tarefa, saíram os cavaleiros para o que pensavam ser a última surtida mas, para surpresa de todos, conseguiram destroçar os muçulmanos e vencer a contenda…
Em desespero regressaram à fortaleza para chorar a morte dos seus familiares, mas tiveram uma grande surpresa: todos os degolados tinham ressuscitado.´ (retirado de http://ensina.rtp.pt/artigo/a-lenda-do-abade-joao-em-montemor-o-velho/ )
Este milagre ficou para sempre na memória do povo português através da lenda dos Degolados de Montemor-o-Velho
Terminava assim, no que se julga ser o 1º Castelo de Portugal, a nossa 1ª Rota dos Castelos 🙂