Ho Chi Minh

Na nossa viagem pelo Sudeste Asiático deste ano a passagem por Ho Chi Minh, ou se
preferirem pelo antigo Saigão, foi a que mais emoção nos causou e em breve irão perceber o porquê.
Depois de um intenso tráfego para chegar ao aeroporto de Hanói para rumarmos a Ho Chi Minh esperava-nos uma má notícia, o voo da Vietjair tinha sido adiado cerca de 2 horas, e tendo em conta que já chegavamos bem de noite à antiga capital do Vietname do Sul, desta forma chegaríamos de madrugada.
Já tinha alertado previamente a Marta que com tantos voos provavelmente nem tudo iria
correr como planeado, para se ir preparando psicologicamente para imprevistos 🙂
No entanto verifiquei que aproximadamente de 30 em 30min estava a partir um avião da
companhia para Ho Chi Minh e lá me fui chorar todo para nos arranjarem uns lugarzinhos num voo mais breve e não é que tive sorte? 🙂 O povo Vietnamita é muito simpático e prestável apesar de muitas vezes ser difícil a comunicação Smile. Foi tempo de fazer check in, despachar as malas, comer uma sopinha Pho para acamar o estômago e la fomos nós rumo ao Sul.

38996256_2118343138421973_3560159156851703808_n
Ao contrário do nosso voo anterior, de Chiang Mai rumo a Hanói, onde 99% eram turistas, aqui 99% eram locais e foi curioso verificar isso. Já nem me lembrava mas tinha  comprado jantar a bordo aquando da compra dos bilhetes, e foi comer a bucha e passado pouco tempo já tínhamos chegado ao sul do país.
Apanhámos um táxi no aeroporto, num curto trajecto rumo ao nosso hotel no centro da
cidade, o Aristo Saigon Hotel.
Quando chegámos a recepção estava tudo escuro, mau cheiro, a Marta olha para mim com um ar recriminador do género onde nos vieste meter? 🙂
O senhor prontamente pediu desculpa e disse que tinha havido uma ruptura na canalização, não teriam condições para nos alojar e que nos levariam de imediato para um hotel nas redondezas, o Paradise Saigon Hotel.
Não sei se era melhor ou pior mas gostámos muito do hotel, pelo menos o pouco tempo que lá estivemos, basicamente meia dúzia de horas a dormir lol
Ainda antes de irmos fazer o ó-ó fomos dar uma voltinha pelo bairro e ao contrário de Hanói, Ho Chi Minh era mais cosmopolita e menos caótico, com um ´cheirinho´ ao antigo colonizador francês.
Era hora de regressar ao hotel porque o dia começaria bem cedo..
Poucas mas boas horas de sono foram uma vez mais suficientes! Fomos ao topo do hotel, com uma vista privilegiada sobre a cidade, tomar o pequeno-almoço e enchemos bem o bandulho, estava tudo óptimo!

Fizemos o transfer para o nosso hotel inicial, já que há uns dias atrás tínhamos comprado um tour matutino para os cu chi tunnels com partida dali.
Mal entrámos no autocarro fomos recebidos pelo afável Jackie, dos seus 60/70 anos, com um estilo meio hippie, meio índio .
O Jackie é um incrível contador de histórias e prometia-nos contar a verdadeira história que o seu povo passou.

Desde o tempo do colonialismo francês até á terrível guerra entre o Vietname do Sul e do
Norte, passando pela sua história de vida, na altura como intérprete dos Americanos. É
impossível não nos emocionarmos a ouvirmos as suas histórias, e foram várias as vezes que as lágrimas teimavam em cair. Conta que ainda hoje o seu corpo está contaminado pelo famoso, pelas piores razões, agente laranja.
Tivémos uma incrível sorte em sermos acompanhados pelo Jackie e recomendamos vivamente a tour com ele.
A meio do caminho da viagem indicou nos o local que mudou o rumo da guerra: uma
fotografia, uma imagem que vale mais de 1000 palavras, e mostrou nos a foto da menina núa a correr, com uma expressão de horror, com o corpo a queimar, a fugir após a sua vila ter sido atacada com explosivos nepalm pelos Americanos.

vietnam-napalm-girl-4_fran
A emoção apodera-se mais uma vez de nós, sabendo que foi exactamente ali que o sentimento da opinião pública mundial mudou relativamente á guerra do Vietname á intervenção americana na mesma.
Todas as guerras são horríveis e está não foi excepção, ainda mais dividiu a nação em dois até 1976.

Hora para tomar um cafezinho vietnamita, dos mais famosos do mundo, e ver a arte
vietnamita tendo como matéria prima cascas de ovos, simplesmente incrível.
Sem darmos por isso tínhamos chegado aos:

Cu Chi tunnels
O temivel reduto dos Vietcongues no tempo da guerra.
Jackie diz que conheceu muitos Vietcongues sem saber que o eram, seus companheiros de cerveja mas que depois tinham uma vida secreta como Vietcongues, uma guerrilha que combatia o governo do Vietname do Sul e os americanos.

Antes de entrarmos no complexo, referiu-nos que durante muitos anos devidos aos ataques químicos na área não havia sinais de vida, vegetação, animais, árvores, frutos, nada..no entanto hoje em dia os sinais de radiação são coisa do passado, sendo que para provar isso mesmo o Jackie tirou de uma árvore um fruto, comeu e convidou me a segui-lo. Já não me lembro do nome do fruto, era sumarento mas seco e ácido ao mesmo tempo. A Marta olha para mim pensando que ia ficar viúva antes do tempo mas ainda estou ainda bem vivo para contar a história 🙂
Só uma coisa não voltou, os macacos que antes abundavam, nunca mais foram vistos pelasredondezas, conta-nos saudoso Jackie.
Chegava a altura de entrar na zona de sistema de túneis subterrâneos de cerca de 40kms, onde outrora os Vietcongues viviam e combatiam.

Jackie ia-nos explicando e mostrando as várias curiosidades do local, como o incrível
sistema de respiração e as portas de entrada para os túneis devidamente camuflados. A
maioria dos túneis e entradas já não estão acessíveis, no entanto as que estão é possível
experimentarmos entrar por aqueles minúsculos buracos e camuflarmo-nos qual verdadeiros Vietcongues. Se sofrerem de claustrofobia esqueçam, não é boa ideia 🙂

Liderei o nosso pequeno grupo por um pequeno circuito de túneis que ainda é possível fazer, sendo que a maioria saiu na 1ª saída devido ao ambiente claustrofóbico. Eu e mais
meia dúzia de pessoas continuamos até ao fim, sendo que o calor é qualquer coisa de
inexplicável e o facto de caminhar tantos metros de cócoras devido á pouca altura dos túneis, implica que os Vietcongues além de serem pequenos e magros teriam que ter uma preparação física incrível! Quando saímos para fora tinha a orgulhosa Marta a receber me e estávamos completamente encharcados como tivéssemos acabados de sair do banho, além de ter arranjado uma dor de pernas para o resto do dia 🙂 Foi uma experiência fantástica!

Continuamos o trilho e o Jackie chamou nos a atenção para as enormes crateras que víamos no solo devido ás bombas e apesar de já terem passado tantos anos ainda são bem visíveis a olho nú.

45262018_2033528923375055_3335410617832964096_n
O Jackie além de muito informativo é bastante interactivo. Referiu-nos que os vietnamitas foram os únicos a conseguirem desmantelar e a cortar as bombas de ataque americanas, de modo a extrair a polvora para fazerem as suas próprias armas, processo este que poderia demorar meses, só com a calma dos Vietnamitas é que era possível 🙂
Conseguimos ver as armadilhas letais dos Vietcongues, que até dão arrepios, bem como ver como viviam, sobreviviam em condições tão adversas e combatiam neste complexo sistema de túneis.

Quem quiser tem também um campo de tiro para experimentar as armas antigas de guerra, nós dispensámos este desporto e optámos antes por nos refrescar com uns gelados vietnamitas.

Terminámos a visita com um pequeno filme sobre a história dos guerrilheiros dos Cu Chi
Tunnels e chegara o momento de regressar para ho Chi Mihn.
Achámos um sítio imperdível para quem passa por Saigon, um must go, ainda mais tivémos a sorte de ter um guia 5*!
Chegados novamente a Ho Chi Minh era agora altura de visitarmos o

Museu de memórias de Guerra
Mal entrámos deparamos nos com maquinaria de guerra aos molhos, tanques, aviões,
helicópteros, muitos deles capturados aos americanos. Para quem é fanático de aviões e
tanques está no paraíso aqui 🙂

Entrámos no museu e ao contrário do que seria expectável a exposição começa de cima para baixo.
Aqui mergulhámos de corpo inteiro na sangrenta guerra do Vietname, que durou 20 anos!

Obviamente que aqui lemos e vemos a história contada pelo lado vitorioso da guerra, o
Vietname , e não do lado americano que já conhecemos sobejamente de documentários e
filmes.
Com um acervo fantástico tanto a nível histórico como a nível fotográfico, guia-nos cronologicamente durante o tempo pré, durante e após guerra.
Ficámos impressionados com os números brutais de combatentes, de mortos, de bombas e abismados por exemplo com o massacre americano de my lai, numa vila vietnamita.

Chegando perto do fim da visita entrámos na sala de agressões e crimes de guerra e é
absolutamente chocante, sendo que a Marta não aguentou. Os efeitos do nepalm e
principalmente do agente laranja altamente cancerígeno, é traduzido para imagens, fetos
defeituosos, criancas sem braços, sem pernas e tudo o que de pior podemos imaginar, o
horror da guerra no seu expoente máximo e ali aos nossos olhos, para nos chocar e fazer
pensar. Ainda hoje passados todos estes anos os efeitos ainda são bem visíveis nas pessoas e na sociedade vietnamita.

45244323_2033554686705812_6744935058181718016_n.jpg
Achámos este museu de guerra absolutamente indispensável para quem visitar a cidade mas preparem-se, é ao mesmo tempo perturbador e deixou-nos tremendamente abalados.
Saímos a pé do museu rumo ao mercado mais popular da cidade para desanuviar um pouco.
Apanhámos um aguaceiro que até nos soube bem e nos lavou a alma. Para quem anda pelo Sudeste Asiático sabe bem que estas repentinas chuvadas são habituais e já nem estranhamos, o melhor amigo é sempre uma capa de plástico, que por sinal nos tínhamos esquecido no hotel 🙂
Rapidamente chegámos ao

Ben Than Market,

um enorme mercado bem no centro da cidade.
Encontramos aqui desde fruta fresca, vegetais, especiarias, frutos secos a todo o tipo de
recordações que queiramos trazer. Detivemo-nos principalmente a no famoso café da cidade e cafeteiras típicas vietnamitas.

A fome já apertava e mesmo junto ao mercado encontra-se um Street Food Market muito giro, com dezenas de barraquinhas de todo o tipo de comidas orientais. Eu provei um ramen que deu para transpirar e bem e a Marta uns noodles, já não sabemos bem com o quê 🙂

Por aqui ficámos mais tempo do que o esperado já que uma imensa chuva se abatia sobre Saigon e nos deixava de boca aberta tal a sua intensidade. Mas conforme a chuva veio rápido, tambem rápido se foi e deu novamente lugar ao bafo habitual, tão característico do país, apesar de em Hanói termos sofrido bem mais com o calor.
Chegava a altura da despedida da cidade. Rumámos ao hotel e de seguida para o aeroporto que nos levaria para um novo país, uma nova cidade, uma nova aventura.
Em Portugal, nestas tardes frias de inverno, recordamos e viajamos novamente até Saigon, enquanto bebemos um delicioso café quente desta cidade 🙂
Em breve vos contaremos o próximo destino desta nossa viagem, um destino que um dia
sonhávamos conhecer: Angkor Wat, Siem Real, Cambodja 🙂